Você já parou para pensar que a felicidade não está na linha
de chegada, o que importa é o caminho?
Pois sim, o nosso olhar para o caminhar é o que irá definir as
escolhas que tomamos e as sensações que experimentamos. E um caminho sem
obstáculos talvez não nos leve a lugar nenhum, talvez nos faça caminhar em
círculos sem percebermos, talvez nos faça dirigir em piloto automático, sem o
prazeroso poder de controlar nossa própria vida.
A pedra no caminho terá o tamanho que nós dermos a ela e isso
tem um significado maior do que o "ponto de vista" que se enxerga a
dificuldade. Independente do ponto que se olha a barreira, a construção da
mensagem que chega ao cérebro para formar a opinião há de ser lapidada antes de
ser explicitada.
É um exercício, como qualquer outro.
E se fizéssemos uma espécie de engenharia reversa do
conflito?
Essa técnica é utilizada para entender o funcionamento de
algo com o desenvolvimento de um objeto de estudo novo, a partir dos dados
coletados, possibilitando o entendimento e melhoria daquilo que se vê.
Comumente, é utilizada na áreas de tecnologia, em que objetivamente se desmonta
uma máquina para descobrir como ela funciona.
Aplicando ao mundo dos conflitos, podemos fazer a
interpretação de uma definição que seja concernente ao estudo daquilo que foi
criado, revertendo o olhar não somente para como nos sentimos diante de
determinada situação, mas para o conjunto de ações anteriores que nos fizeram
chegar até aquele momento.
Ao encarar o problema - quando o encaramos - tendemos a
querer resolver a discussão, que é o momento em que o conflito já está
polarizado, cada um defendendo o seu "ponto de vista", firmes em
posições, sem perceber que quando fincamos o pé estamos PARADOS no caminho para
o progresso.
O conflito não se confunde com o confronto, ele vai além, e é
justamente antes de se chegar em uma situação-limite que podemos fazer o
exercício da engenharia reversa, colocando-nos em uma situação de avaliador da
questão, ponderando as dificuldades que construíram aquele conflito, analisando
os diversos aspectos inseridos, ampliando a visão e olhando também para o
outro.
Seja problema com seu vizinho, com seu cônjuge, com seu
chefe, afinal em toda e qualquer relação surgem conflitos, o que se propõe é
que possamos usar a nossa criatividade para soluções dos conflitos e para nos
tornarmos mais criativos e abertos é preciso desaprender algumas coisas, isso
mesmo, esquecer alguns bloqueios que nos foram inseridos, como o de que o
conflito é algo ruim, para reaprendermos a olhá-lo em uma nova perspectiva.
Trecho interessante escrito pela jornalista, escritora,
aforista e poetisa brasileira Martha Medeiros em Aprendendo a Desaprender, nos
ensina que:
"Para aprender
coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos. E isso não se faz com o
simples apertar de uma tecla. Antes de aprender, é preciso dominar a arte de
desaprender. Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais
facilmente as barreiras que encontramos no caminho. Desaprender a ser tão
exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros.
Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente
precisa saber lidar com o inusitado. Desaprender a esperar que os outros leiam
nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia, é melhor acreditar no poder
da nossa voz. Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena
da gente mesmo, os dias passam cheios de oportunidades."
Um bom exercício para incentivar a criatividade é não se
contentar com a primeira resposta resolutiva que vêm na cabeça, só para sair
daquele momento mais tempestuoso. Muitas vezes pensamos em soluções padrões e
não na solução mais adequada especificamente para determinado conflito, o que
faz com que ele se repita insistentemente, mas para isso é imprescindível que
aprendamos a analisar a situação conflituosa e entendê-la a partir também da
compreensão e visão de todos os envolvidos.
Ao aplicar esse novo olhar, é sim possível se evitar um
confronto, mas uma vez que ele seja instaurado também podemos acessar essas
técnicas e exercícios para, nós mesmos, solucionarmos aquele problema. Será
necessário um tempo para respirar, organizar as ideias, compreender os
sentimentos e, quem sabe, meditar.
Outra técnica criativa para compreensão do problema e sua
resolução é dar um "zoom in" no conflito, investigando o fato
ocorrido, entendendo a motivação, o motivo da ação e reação que o gerou. Logo
após, dar um "zoom out", generalizando a concepção do problema,
olhando para a situação como se fora dela estivesse, distanciando-se
emocionalmente para garantir a coerência da opinião e da atitude posterior.
O importante é que ponderemos emoções temporárias para
decisões permanentes, pois, muitas vezes, o conflito que desencadeia um
confronto, é um caminho só de ida. E é por isso que o controle emocional e a
criatividade se fazem tão importantes para resolução de conflitos, sendo
habilidades que devem ser exercitadas e desenvolvidas.
Afinal, como dito por Albert Einsten: "Não podemos resolver um problema com o mesmo estado mental que o
criou".