terça-feira, 24 de maio de 2016

É possível ser criativo na resolução de conflito



Você já parou para pensar que a felicidade não está na linha de chegada, o que importa é o caminho?

Pois sim, o nosso olhar para o caminhar é o que irá definir as escolhas que tomamos e as sensações que experimentamos. E um caminho sem obstáculos talvez não nos leve a lugar nenhum, talvez nos faça caminhar em círculos sem percebermos, talvez nos faça dirigir em piloto automático, sem o prazeroso poder de controlar nossa própria vida.

A pedra no caminho terá o tamanho que nós dermos a ela e isso tem um significado maior do que o "ponto de vista" que se enxerga a dificuldade. Independente do ponto que se olha a barreira, a construção da mensagem que chega ao cérebro para formar a opinião há de ser lapidada antes de ser explicitada.

É um exercício, como qualquer outro.

E se fizéssemos uma espécie de engenharia reversa do conflito?

Essa técnica é utilizada para entender o funcionamento de algo com o desenvolvimento de um objeto de estudo novo, a partir dos dados coletados, possibilitando o entendimento e melhoria daquilo que se vê. Comumente, é utilizada na áreas de tecnologia, em que objetivamente se desmonta uma máquina para descobrir como ela funciona.

Aplicando ao mundo dos conflitos, podemos fazer a interpretação de uma definição que seja concernente ao estudo daquilo que foi criado, revertendo o olhar não somente para como nos sentimos diante de determinada situação, mas para o conjunto de ações anteriores que nos fizeram chegar até aquele momento.

Ao encarar o problema - quando o encaramos - tendemos a querer resolver a discussão, que é o momento em que o conflito já está polarizado, cada um defendendo o seu "ponto de vista", firmes em posições, sem perceber que quando fincamos o pé estamos PARADOS no caminho para o progresso.

O conflito não se confunde com o confronto, ele vai além, e é justamente antes de se chegar em uma situação-limite que podemos fazer o exercício da engenharia reversa, colocando-nos em uma situação de avaliador da questão, ponderando as dificuldades que construíram aquele conflito, analisando os diversos aspectos inseridos, ampliando a visão e olhando também para o outro.

Seja problema com seu vizinho, com seu cônjuge, com seu chefe, afinal em toda e qualquer relação surgem conflitos, o que se propõe é que possamos usar a nossa criatividade para soluções dos conflitos e para nos tornarmos mais criativos e abertos é preciso desaprender algumas coisas, isso mesmo, esquecer alguns bloqueios que nos foram inseridos, como o de que o conflito é algo ruim, para reaprendermos a olhá-lo em uma nova perspectiva.

Trecho interessante escrito pela jornalista, escritora, aforista e poetisa brasileira Martha Medeiros em Aprendendo a Desaprender, nos ensina que:

"Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de aprender, é preciso dominar a arte de desaprender. Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho. Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado. Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia, é melhor acreditar no poder da nossa voz. Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os dias passam cheios de oportunidades."



Um bom exercício para incentivar a criatividade é não se contentar com a primeira resposta resolutiva que vêm na cabeça, só para sair daquele momento mais tempestuoso. Muitas vezes pensamos em soluções padrões e não na solução mais adequada especificamente para determinado conflito, o que faz com que ele se repita insistentemente, mas para isso é imprescindível que aprendamos a analisar a situação conflituosa e entendê-la a partir também da compreensão e visão de todos os envolvidos.

Ao aplicar esse novo olhar, é sim possível se evitar um confronto, mas uma vez que ele seja instaurado também podemos acessar essas técnicas e exercícios para, nós mesmos, solucionarmos aquele problema. Será necessário um tempo para respirar, organizar as ideias, compreender os sentimentos e, quem sabe, meditar.

Outra técnica criativa para compreensão do problema e sua resolução é dar um "zoom in" no conflito, investigando o fato ocorrido, entendendo a motivação, o motivo da ação e reação que o gerou. Logo após, dar um "zoom out", generalizando a concepção do problema, olhando para a situação como se fora dela estivesse, distanciando-se emocionalmente para garantir a coerência da opinião e da atitude posterior.

O importante é que ponderemos emoções temporárias para decisões permanentes, pois, muitas vezes, o conflito que desencadeia um confronto, é um caminho só de ida. E é por isso que o controle emocional e a criatividade se fazem tão importantes para resolução de conflitos, sendo habilidades que devem ser exercitadas e desenvolvidas.

Afinal, como dito por Albert Einsten: "Não podemos resolver um problema com o mesmo estado mental que o criou".

terça-feira, 3 de maio de 2016

Como ativar o mindset positivo para o conflito



O dicionário define "conflito" como altercação, desordem, pendência, choque, embate, luta, oposição, disputa.

Diante de uma situação conflituosa, nosso corpo libera adrenalina como mecanismo de defesa, no que as pessoas ficam propensas a agir sem refletir. E, mesmo sabendo que não são as atitudes mais eficientes, tendem a julgar o outro, atribuir culpa, responsabilizar, analisar personalidade, ou seja, polarizar a relação, enxergando apenas dois lados, um preto e um branco, como se não existisse o cinza, aquele ponto de equilíbrio.



Mas e se mudarmos a perspectiva para uma prosa narrativa, por exemplo?

Então você aprende a lidar com o conflito literário, e é justamente ele que irá manter o interesse do leitor na história. O conflito vira uma interrupção, na qual o protagonista busca seus sonhos através de um dilema ou desafio que dificulte sua trajetória, o que causa um liame de conexão com o leitor, que no seu dia a dia experimenta sensações similares.

E são essas experiências vivenciadas que nos permitem afirmar que os conflitos fazem parte do nosso cotidiano. Seja como for, ao relacionar-se, os conflitos surgem uma hora ou outra.

Temer o conflito e não trabalhar as habilidades de comunicação é um passo para torná-lo maléfico, podendo ocorrer o que chamamos de espirais de conflitos, que é quando o conflito tem um crescimento progressivo acentuado, onde há sucessivas reações de ambos os conflitantes, chegando em um ponto que a ação geradora do conflito torna-se secundária.

Como o próprio nome nos remete, é um espiral, linha curva que vai dando voltas sem se fechar, em que repetidamente tem-se ações e reações. A parte gasta mais energia em responder e reagir com agressividade a ação que a antecedeu, percorrendo um caminho em espiral, ao invés de dissipar o conflito em si.

A chamada Moderna Teoria do Conflito consiste na alteração da forma de se perceber o conflito, onde a partir do momento que nos conscientizamos ser este um evento natural da vida, conseguimos enxergá-lo de maneira positiva.

Sobre as habilidades necessárias para se resolver um conflito de forma construtiva, Morton Deutsch, psicólogo, pesquisador de conflitos e escritor de diversos livros sobre o tema nos ensina que

"There are four basic conflict resolution skill sets, useful to both participants in conflict and third parties. First are skills for establishing an effective, open, trusting working relationship between the parties, and any involved third parties. Second are skills for establishing a cooperative problem-solving approach to the conflict. Third are skills for developing effective group processes and decision-making processes. Fourth is substantive knowledge of the relevant issues."

Em tradução livre:

"Há quatro conjuntos básicos de habilidades de resolução de conflitos úteis para ambos os participantes em situações de conflito e de terceiros. Primeiro são as habilidades para estabelecer uma relação de confiança eficaz, aberta entre as partes e quaisquer terceiros envolvidos. Em segundo lugar estão as habilidades para  estabelecer uma abordagem de resolução de problemas cooperativa para o conflito. Em terceiro lugar estão as competências para o desenvolvimento de processos de grupo eficazes e processos de tomada de decisão. A quarta é o conhecimento substantivo das questões relevantes."

Nesse sentido, denota-se que precipuamente faz-se necessário que o vínculo (pré)estabelecido entre os conflitantes seja (re)estabelecido para que se crie ambiente agradável, passível de uma conversa aberta e franca. As partes precisam confiar que são capazes de deslindar seus próprios conflitos e que, ouvindo e absorvendo o que o outro estar a expor vai ajudar a compreender os motivos que geraram o conflito específico e que ninguém encontrará melhor solução para seus problemas do que elas mesmas.

Quem sabe verdadeiramente o que você sente, senão você mesmo?

O processo de resolução do problema e de tomada de decisão requer um procedimento de exposição do nosso emocional que, após ser compreendido pelas partes envolvidas, é racionalizado na busca de critérios para resolvê-los. Uma vez que subjetivamente os interesses vão sendo expostos, o liame com o problema é criado e ao se sentir parte do conflito pode gerar o que chamamos de "brainstorm", uma tempestade de ideias que objetivamente podem solucionar o conflito.

A partir daí, as questões mais relevantes são pontuadas para que se consiga fechar aquele conflito que estava em aberto.

Ao contrário do que possa parecer, o conflito tem sim funções positivas. Ele estimula um fortalecimento da relação com a aproximação e a compreensão das partes, gera amadurecimento, cria sensação de fortalecimento, evita uma estagnação da relação, incentiva o interesse no outro e a curiosidade, podendo ser visto como uma semente para mudanças pessoais e sociais.

Pessoas flexíveis se beneficiam do conflito. E você, qual caminho vai escolher?